terça-feira, 18 de outubro de 2011

NOSTALGIA

' Se saudade fosse um verbo, seria transitivo indireto. Porque quem sente saudade, sente saudade de. De um amigo. De um beijo passado. De um gosto. Da vó que os anos não perdoaram. Já nostalgia, se fosse um verbo, seria intransitivo. A nostalgia nubla o coração. Nostalgia é uma coisa que chove dentro da gente, não tem objeto. E seu sujeito é o tempo, impossível de controlar.
Ninguém sente nostalgia de. Nós não sentimos a nostalgia, é ela que se impõe sobre nós. Ela vem com uma causa oculta, que nos arrebata. É vontade de viver novamente algo que sabemos que não viveremos. A nostalgia não tem remédio.
Saudade a gente abraça. Nostalgia a gente quer abraçar, mas é impossível. Aliás, a impossibilidade é pré-requisito para o sentimento de nostalgia. Já a saudade…bem. Dá pra matar em uma conversa, vendo fotos, vídeos ou até mesmo lembranças. Mas tente “matar a nostalgia” (já reparou que não existe essa expressão?) vendo uma foto. Não dá. A vontade de voltar no tempo só aumenta. A saudade é saciável. A nostalgia é sempre um desejo que nunca deixará de ser.
Saudade e nostalgia andam quase sempre juntas, casadas, por isso é tão difícil defini-las. Nostalgia não é saudade da avó que morreu. É uma vontade de voltar à vida de antes, de quando ainda existia avó, bolo de fubá e família reunida no Natal (ou simplesmente da época em que o Natal ainda era uma época do ano que esperávamos ansiosos, com olhinhos brilhantes).  Não é vontade de brincar com o Meu Primeiro Gradiente de novo. É vontade de ter vontade de brincar com ele. Não é saudade da ex-namorada. É a vontade de reviver aqueles fins de semana maravilhosos novamente, mesmo que eles não tenham sido tão maravilhosos assim.
A nostalgia nos dá a impressão que aquele momento que vivemos era perfeito, mesmo que no exato momento em que vivíamos aquilo, não pudemos sentir essa perfeição. Já quando sentimos saudades, sentimos sem inventar a perfeição. Sentimos saudades daquilo e pronto, sem botar a idealização no meio da história.
A saudade é irmã da resignação. Sentimos, sorrimos [ou choramos] e guardamos numa caixinha bonita em formato de <3.  A nostalgia é irmã da indignação. Sentimos, e não sabemos o que fazer com aquilo. Não sabemos onde colocar. É por isso que se nostalgia tivesse slogan, seria “eu era feliz e não sabia”. Já o slogan da saudade seria “bom ter vivido isso”.
Saudade é tchau. Nostalgia é adeus. Ou ninguém nunca reclamou quando você, brincando, disse ao sair de casa: adeus! '

Pois é. Todo mundo fala tchau. Mas ninguém quer sentir o adeus.
Recebi esse texto há um tempo, e só agora que fui dá atenção. Ou só agora que fui entender?
Tanto faz.

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