terça-feira, 19 de junho de 2012

50/50 (50%)





- Tá vendo? Isso é besteira. Todo mundo fica me dizendo desde o início: "você vai ficar bem" ou "tudo vai ficar bem". Isso só piora tudo. Iria ser melhor se alguém virasse pra mim e dizer: "Sinto muito mas você vai morrer".


É comum termos filmes com pessoas doentes, seja com câncer ou outro tipo de doença. O problema é que pessoas jovens não deveriam ficar doentes e morrerem. Claro que é triste para qualquer pessoa nessa condição, mas deve ser especialmente difícil quando você tem seus 20 e poucos anos com uma vida inteira pela frente e descobre que tem um tipo de câncer que tem 50% de chances de acabar com ela. Pior ainda se a notícia for dada por um médico sádico que trata o assunto como se fosse a coisa mais trivial do mundo. Ele pode tratar de muitas pessoas com câncer, mas nunca deve ter parado pra analisar como o paciente se sente recebendo uma notícia dessas? Até me pergunto se ele não podia dizer que seu paciente tem 60% de chances de viver. Será que esses 10% não fariam diferença?
É isso que acontece com Adam (Joseph Gordon-Levitt), um jovem que trabalha em uma estação de rádio com seu amigo Kyle (Seth Rogen). Ele se queixa de umas dores nas costas e vai no médico para descobrir qual é o seu problema. O médico vai falando palavras em um gravador onde Adam capta apenas algumas palavras. O suficiente para obter uma resposta de forma seca: ele tem um raro tipo de câncer na coluna e logo depois descobre que suas chances são de 50%.
O filme tem uma mulher que pode ser o interesse romântico de Adam, mas o filme não é sobre isso. O filme é sobre como os amigos Adam e Kyle lidam com a doença juntos. Pelo que pesquisei, o roteiro foi escrito por Will Reiser, um produtor que escreveu pela primeira vez um longa. Ele próprio foi diagnosticado com a doença e ajudado por seu amigo Seth Rogen. Foi Rogen quem o incentivou a escrever esse roteiro e talvez por isso o filme pareça tão honesto. Faz diferença quando é escrito com coração.
É com Kyle que Adam pode realmente contar. Ainda mais do que a própria namorada, Rachael (Bryce Dallas Howard), que mora com ele. E pior ainda, ele vai descobrir que ela nunca foi alguém com quem realmente pudesse contar mesmo antes da doença. Ela provavelmente gostaria de dizer que não quer passar por isso com ele, mas o que as pessoas iriam dizer? É provável que ela tenha ficado ao lado dele porque a sociedade diz que é a coisa certa a se fazer ou por dó, mas essa não é uma situação pela qual alguém gostaria de passar.
É também com sua mãe, Diane (Anjelica Huston), que ele pode contar. Mas ele mesmo, que em certos momentos parece não ter paciência com ela, não parece querer envolvê-la muito nessa questão. Talvez seja porque ela é superprotetora, ou talvez seja porque ela já tenha que cuidar do pai dele que sofre de Alzheimer. O que parece importante é saber que nesses momentos a mãe é uma pessoa com quem você possa sempre contar não importa como a vida dela esteja.
Ainda tem outros dois personagens importantes. Um aparece quando Adam vai às sessões de quimioterapia e conhece outros pacientes, entre eles Alan (Philip Baker Hall). Alan dá a Adam verdades sobre a doença deles. Sem florear nada. Ele já aceita sua situação e sabe que deve morrer em breve. A outra é a (muito) jovem Katherine (Ann Kendrick), a terapeuta que tenta ajudá-lo, mas pouco sabe sobre a vida ou mesmo como lidar com a doença.
Talvez por sua experiência em seriados de TV, Reiser escreve o filme como se fosse um. Mas a grande vantagem dele é que não termina como se fosse. Ao invés de manter o tom de comédia até o fim do filme, Reiser assume a tragédia do que pode acontecer. Já conhecemos bem os personagens e estamos preparados para acompanhar o desfecho, mas ainda assim ele não vem de forma fácil. Como disse antes, é um filme feito com coração de quem já passou por uma situação como essa. Talvez fosse melhor que nos cinemas as coisas acontecessem de forma menos trágica, mas esse não é um filme como os outros.
Se esse filme caísse em outras mãos, eu poderia dizer que o personagem interpretado por Joseph Gordon-Levitt seria um tipo intragável. Mas conforme o tom de comédia vai diminuindo e o filme vai ficando mais emotivo, é Levitt quem nos impulsiona a continuar assistindo o filme. Ele é talvez o mais natural e menos afetado ator da sua geração, e num filme como esse, isso faz muita diferença. No final, o que temos é um ótimo filme feito com coração e honestidade.


Sem contar a música de encerramento. Boa demais.
Incrível é lembrar das amizades que podemos contar e das que sentimos falta e das que pensávamos que sempre tínhamos e nunca tivemos.


Vale a pena!

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